claro que eu compartilho das suas ideias, só que não.
Eu comecei a ouvir um monte de absurdos (na minha opinião) e não me aguentei. Porque eu geralmente dou um sorriso sem graça e mudo de assunto. Eu NÃO gosto de confronto. Não gosto de me indispor com desconhecidos. Mas anda difícil ultimamente.
A ladainha fez um trajeto característico: começou pelo impeachment, deu uma volta pelo Nordeste, passeou pela corrupção - sempre culpa "do outro", seja ele o político rico ou o pobre safado gozando sua bolsa esmola; e chegou até no casamento gay. Tentei argumentar dizendo que eles estavam confundindo direitos com privilégios.
Meus interlocutores eram dois: um homem mais velho e a mãe de uma menina novinha. Eu entrei na briga querendo estar certa. Como eles podiam estar tão errados ? No entanto, eu não tinha informações suficientes para cuspir provas da minha certeza na cara deles. E eles "tinham", provas tortas e bem questionáveis, na minha opinião, mas tinham, dentro daquela abordagem. E eu ficando vermelha e com taquicardia com tanto chorume.
Aquela discussão foi me desmontando. Porque eu queria estar certa, de qualquer maneira. Mas querer ter certeza não pode ser maior que o debate, que a escuta, a troca. Porque quando a gente se desarma e para de apenas querer estar certo, conseguimos argumentar, e convencer vira dialogar. Depois de um bate boca de mais ou menos uma hora, eu disse para o interlocutor mais velho (e mais cheio de certezas) que ele podia não gostar nem um pouco de como eu penso e vice versa, mas que o que a gente estava fazendo discutindo era muito saudável. Enquanto ainda estamos num país em que se pode discutir, mas vai que isso muda né ? Bom mesmo devia ser na ditadura.
No fim da discussão, a interlocutora mulher começou a concordar comigo em alguns pontos, e começamos a conversar, sem que tivesse sido decretado um lado "vencedor" daquele debate político. Conversamos sobre outras coisas e ela me contou sobre quando foi viajar para a Turquia e de como se sentiu oprimida por lá, e então enveredamos para o feminismo, em um debate muito mais amigável que o round 1 (alô sororidade ♥).
Acredito em uma militância de troca, de empatia, de diálogo. Não que esta seja a única maneira de militar - mas talvez seja o meu jeitinho de fazer isso, de tentar mudar o mundo, pessoa por pessoa, seja na fila do caixa ou esperando um ônibus. Melhor ainda quando se quebram as expectativas preconceituosas das pessoas - rola um mind fuck quando você está defendendo o direito dos gays de se casarem e de não serem espancados na rua, e cita Jesus Cristo como suporte bibliográfico: "ama o teu próximo como a ti mesmo".