Favorito para o
Oscar de Melhor Figurino, o filme Pantera Negra carrega muito mais que o
deslumbre estético. Sim, um filme de super herói, e por isso mesmo tão popular
e acessível, com todo o peso da representatividade e muita história. Estou há
quase um ano ensaiando escrever sobre, e não consigo não pensar na frase que
minha amiga Laura usou para compartilhar vídeos sobre o filme na rede
social: "Finalmente vi Pantera Negra ... e não consigo parar de
pesquisar sobre!!". Qualquer post escrito sobre esse filme será
curto, e o meu não é exceção.
Sobre o processo
em si, recomendo o completo
post sobre da figurinista Alice Alves, onde ela nos conta sobre o processo
de criação de Ruth E. Carter, a figurinista do filme, que já trabalhou com
Spike Lee e Spielberg. Com Lee, ela fez Malcom X, que lhe rendeu a indicação ao
Oscar de 1993. Ruth também fez Selma: uma luta pela igualdade e Raízes, e tem
uma trajetória de 30 anos no figurino. Aliás, acompanhem o instagram de Ruth, que
está rolando uma retrospectiva dos trabalhos dela por lá: #28DaysOfCostumeDesign.
Os trajes de
cena e a caracterização dos personagens impressiona, assim como a pesquisa que
envolveu a produção. Os trajes misturam novos designers como o nigeriano Walé Oyéjidé (o vídeo
dele falando sobre o design desse figurino, compartilhado pela Laura,
foi minha principal fonte aqui) a uma vasta pesquisa de roupas
tradicionais africanas, mais os detalhes futuristas que traduzem Wakanda, e é
claro, trajes de super heróis e toda tecnologia envolvida neles. Oyéjidé
resume muito bem este design: trajes ancestrais com silhuetas do século XXI.
A cena que mais
me impressionou e me emociona toda vez que vejo é a da cachoeira, quando
T'Chala passa pela cerimônia para tornar-se Pantera Negra. A cena é um banquete
para os olhos.
O grande desafio
dessa cena é mostrar as diversas culturas e tribos que formam Wakanda, um
território multicultural. Muitas peças foram desenhadas, criadas e estampadas
pela equipe de Ruth, que também adquiriu algumas peças, como os colares das
Dora Milage, tradicionalmente usados e feitos por mulheres da tribo Ndebele,
da África do Sul. Uma peça de muito impacto é a coroa usada por Ramonda (Angela
Basset), que foi impressa em 3D, inspirada nos chapéus Zulu.
Outro figurino impactante (qual
não é nesse filme, não é mesmo) são os traje das guerreiras Dora Milage -
adoro quando um personagem no inicio do filme avisa a chegada delas dessa
maneira: "Tem duas mina meio Grace Jones aí na porta". Só Okoye usa
mais partes do traje em dourado, para demonstrar sua liderança.
Sobre o traje do Pantera, Ruth nos
diz: “Isso faz dele não apenas um super-herói, mas um rei, um rei
africano”. T'Chala usa por baixo do macacão uma espécie de segunda pele cinza
brilhante que faz o efeito do vibranium. Também é bem presente no traje a
presença de elementos triangulares, uma simbologia sagrada na Africa.
Outro elemento africano presente é a escarificação
da pele, que se apresenta no corpo do "vilão" Killmonger. Comum em
diversas culturas, especialmente na nigeriana, sua significação é diversa
e diz bastante sobre a vida do individuo escarificado, qual tribo pertence, de
que cultura ele faz parte, sua história, suas dores e conquistas.
Mais do que um filme de super herói,
Pantera Negra é sobre contar historias de um passado glorioso, sobre reescrever
narrativas, sobre recriar o simbólico para que ele dialogue com o real.
O que acho mais importante em tudo isso é
esse olhar para cultura e história africana de um jeito que infelizmente ainda
não é majoritariamente comum. Inclusive sempre tive muita dificuldade quando
pesquiso história da indumentária africana para as aulas de história da moda a
partir do figurino que dou. Se a gente fuçar e pesquisar até achamos, mas o
acesso não é tão escancarado quanto à história européia/americana.
Vou ter que deixar essa crítica aí no ar
Rogerinho.
AMEEEEI! Concordo plenamente, a cena da cachoeira é um deleite. Outra coisa que me marca muito são os looks da Shuri, hiper atuais sem perder a herança histórica que carrega, AMO!
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